No Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, os Congados e Reinados de Ouro Preto foram certificados como Patrimônio Imaterial do Estado de Minas Gerais. A cerimônia ocorreu na Casa de Cultura Negra de Ouro Preto e marcou a inscrição dos grupos no Livro de Expressões e Celebrações do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA).
O evento contou com a presença de importantes autoridades, como Kedison Guimarães, Diretor de Promoção da Igualdade Racial de Ouro Preto; Angelo Oswaldo, Prefeito de Ouro Preto; Solange Palazzi, Presidenta da Comissão Ouropretana de Folclore; Flávio Malta, Secretário de Cultura; e Luiz Henrique Câmara Trindade, Presidente da Fundação de Arte de Ouro Preto. Representantes de todos os congados e reinados de Ouro Preto também participaram.
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Homenagens foram feitas para pessoas que contribuíram significativamente para a preservação da cultura dos congados. Entre elas:
- Banda de Congado Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário de Miguel Burnier: Antônio Xisto, com 90 anos e 84 de dedicação ao congado.
- Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia do Alto da Cruz: Maria das Graças dos Santos Sira (in memoriam).
- Congado Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Santo Antônio do Salto: José Geraldo Xavier (Sr. Cocó), Humberto Martins R. Ferreira e José Domingos da Silva (Sr. Zé Buião), todos in memoriam.
- Guarda de Congo Manto Azul de Nossa Senhora Aparecida e São Benedito: Jussara Fernanda da Silva e a Casa de Benção Mãe Maria Conga e Sete Coroas.
- Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia: Geraldo Bonifácio de Freitas e Maria da Conceição.
- Congado Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Graças: José Horta Agostinho e Rosângela Fausto.
Durante a entrega das homenagens houve muita emoção, em especial durante a citação dos nomes dos congadeiros que ajudaram a manter a tradição viva, mas que não estão mais por aqui.
Karina Silvério Augusto, integrante da Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, destacou o valor cultural, religioso e familiar do movimento.
Karina participa do Congado há cerca de 20 anos, desde criança. Para ela, essa tradição vai além das celebrações. Além de ser uma expressão cultural e espiritual, o Congado se torna um espaço de conexão intergeracional, com muitas crianças participando do congado. “Passar essa cultura para elas é essencial, porque não podemos deixar morrer. Se ficar só com os mais velhos, uma hora acaba. Crescendo nesse núcleo afetivo, as crianças aprendem desde pequenas, até mesmo na barriga, e já vão entendendo a importância dessa tradição”, disse Karina, que celebra a participação de seus filhos e neto na continuidade do movimento.
Congados certificados como Patrimônio Imaterial
O reconhecimento foi concedido aos seguintes grupos:
- Banda de Congado Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário de Miguel Burnier
- Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia do Alto da Cruz
- Congado Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Santo Antônio do Salto
- Congado Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Graças
- Guarda de Congo Manto Azul de Nossa Senhora Aparecida e São Benedito
- Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia
- Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito “A Fé que Canta e Dança”
- Reinado da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Ouro Preto
Para o prefeito Angelo Oswaldo , esse reconhecimento revela a importância histórica dos congados:
“Que todos saibamos sempre ter a consciência de que eles são um valor muito especial e muito querido da nossa cultura afro-brasileira. Em Ouro Preto, terra de Chico Rei, os congados surgiram no século XVIII. As manifestações dos africanos escravizados também foram uma forma de resistência e luta pela liberdade, assim como os Inconfidentes lutaram.”
Kedison Guimarães, que fez as honras da Casa de Cultura Negra, ressaltou o alcance da certificação: “É um marco que fomenta políticas públicas para preservação dessa tradição.” Ele é capitão de Moçambique. Neste ano, o equipamento publico que recebeu o evento recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco, na categoria Entidades da Administração Pública.
Antônio Xisto, o capitão de congado com mais tempo de atuação, emocionou os presentes:
“Congado é uma maravilha. A bandeira trono na sua frente, você está livre de todo problema. Congadeiro que não bate caixa, não dança e não canta, para mim não é congadeiro. Tem que cantar, bater caixa e dançar.”
Solange Palazzi enfatizou a relevância do reconhecimento:
“A titulação abre portas para lutarmos por políticas públicas e valoriza os grupos. Durante muito tempo, a cultura negra foi invisibilizada, calada ou destruída. Hoje, o título significa que vencemos essas barreiras. É uma celebração do que somos e do que fazemos para Ouro Preto.”
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.