Projeto Vozes de Gesteira fortalece memória e identidade quilombola

Projeto Vozes de Gesteira fortalece memória e identidade quilombola

O distrito de Gesteira, em Barra Longa, iniciou em agosto as atividades do Projeto Vozes de Gesteira, contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) 2024 – Edital 8. A iniciativa oferece oficinas de teatro para moradores da comunidade quilombola, com o objetivo de fortalecer a memória coletiva, valorizar a identidade cultural e transformar narrativas locais em espetáculo teatral.

As oficinas acontecem entre 16 de agosto e 11 de novembro, sempre aos sábados, na quadra comunitária da associação de moradores. A proposta é que os próprios participantes sejam dramaturgos, roteiristas, atores, cenógrafos e responsáveis pela construção da peça. Histórias e causos contados pelos moradores servirão de base para o roteiro, de modo que a criação artística seja conduzida a partir das experiências e tradições da comunidade.

No quarto mês de atividades, será realizada uma apresentação gratuita e aberta ao público em Gesteira. O espetáculo contará com medidas de acessibilidade para inclusão de pessoas com deficiência. Além da exibição, todo o processo será registrado e a apresentação final será gravada, compondo um acervo documental da comunidade.

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Tradição oral e fortalecimento quilombola

Para o educador e produtor cultural Pedro Petindá, a iniciativa nasceu de uma experiência anterior em Barra Longa e atende a uma demanda local por preservação da memória.

“Estamos falando sobre a história exatamente de Gesteira, a partir da tradição oral do lugar, das histórias das pessoas mais velhas e também das mais jovens. O teatro pode contribuir nesse processo de fortalecimento da identidade quilombola e gerar um produto estético que conte a história do lugar, não só para quem vive lá, mas também para parceiros de luta e fortalecimento da comunidade”, afirmou.

A educadora e produtora cultural Raquel Silva destacou que, apesar de ter sido diretamente atingida pelo rompimento da barragem em 2015, Gesteira ficou de fora do anexo 3 do acordo de repactuação.

“É um território quilombola que ainda convive com rejeitos, com a água afetada, e está em processo de reconexão com sua cultura. O movimento é realizado principalmente por mulheres negras, que buscam fortalecer a identidade quilombola por meio da arte e da memória”, disse.

Processo de criação coletiva

Durante os três meses de oficinas, os moradores participam de todas as etapas do processo teatral. Podem contribuir escrevendo textos, criando figurinos e cenários ou apenas compartilhando suas histórias. Os educadores Filipe Conde Mascaro, Pedro Petindá e Raquel Silva conduzem as atividades, em parceria com a educadora Eva Cristina, especializada em acessibilidade e inclusão.

O projeto busca ainda possibilitar que o espetáculo final circule em outros quilombos e eventos culturais, fortalecendo redes de identidade e ampliando a visibilidade das lutas locais.

Projeto Vozes de Gesteira fortalece memória e identidade quilombola
O Projeto Vozes de Gesteira realiza diferentes atividades com a comunidade quilombola de Barra Longa.

Origem da mobilização

A mobilização comunitária por memória e registro artístico em Gesteira começou em 2023, quando a liderança Simone Silva identificou a ausência de entrega dos registros de um desfile e de apresentações financiadas pela mineradora Samarco. Na ocasião, foram produzidas 13 alas, entre capoeira e cavalgadas, que representavam manifestações culturais locais.

Com a frustração pela falta de preservação daquele material, surgiu a demanda por um projeto que garantisse o registro simbólico e documental das expressões culturais da comunidade. O Vozes de Gesteira surge, assim, como continuidade desse movimento, ampliando o espaço de participação para todas as gerações.

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