Moradores de Chapada, subdistrito de Lavras Novas em Ouro Preto, reclamam que a água fornecida pela Saneouro está chegando suja às torneiras. Diversos vídeos mostram o líquido saindo escurecido nas casas das pessoas. A concessionária justificou o problema dizendo que há meses tenta estabelecer contato com a população local para apresentar o projeto do reservatório e instalação da rede de abastecimento. No entanto, a população contesta essa justificativa através de um dossiê.
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O Superintendente da empresa, Evaristo Bellini, afirmou em entrevista exclusiva ao Galilé que as tratativas com a população começaram em maio de 2022 e que desde então busca estabelecer uma linha de negociação. No entanto, a nossa reportagem recebeu o contato de Ana Conceição Guimarães Pereira, conhecida como Preta da Chapada, que apresentou respostas para cada afirmativa da concessionária.
As obras da Saneouro na localidade são a substituição da adutora principal que abastece a comunidade e a instalação de hidrômetros para medir o consumo de água na região, bem como a padronização das ligações. Por conta disso, os moradores afirmam que o líquido chega sujo nas torneiras devido à contaminação.
SANEOURO X MORADORES DA CHAPADA
O Superintendente da Saneouro, Evaristo Bellini, afirmou que a empresa busca estabelecer um diálogo com os moradores da Chapada desde o ano passado. Segundo ele, a empresa se reuniu com os habitantes da região e, a partir da conversa, criou um projeto para a melhoria dos serviços prestados no local.
No entanto, os moradores contestam essa afirmação. Através de um dossiê, Preta da Chapada afirma que foram os moradores que convocaram a primeira reunião, informando que a comunidade, composta por pouco mais de 80 habitantes, não queria a cobrança de tarifas no local, visto que:
“Não temos rede de esgoto, não temos saneamento básico, a água que atende a comunidade vem de nascente. Pois pra gente pagar alguma coisa eles teriam que fazer melhorias no reservatório, na canalização e etc. Eles então pediram três meses e depois falaram que não poderiam fazer o que pedimos.”
Revelou Preta ao Galilé.
No documento, a empresa afirma que procedeu “conforme encaminhamentos de reunião realizada no dia 25 de maio” e que as obras em questão estão diretamente relacionadas com a “padronização das ligações e consequente medição do consumo”. Ou seja, somente a eficiência do investimento no sistema de abastecimento da localidade está associada à execução das obras de padronização das ligações. Isso quer dizer que a empresa afirma que as melhorias apontadas pelos moradores só podem ser feitas mediante a instalação dos hidrômetros e demais obras.
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No dossiê, os moradores afirmam que esse estudo nunca foi apresentado e, por isso, os canais de comunicação com a empresa foram cortados. Sobre a justificativa da Saneouro acerca da falta de diálogo, os moradores afirmam que não querem conversa
“Sim, não queremos. Primeiro, parem de nos contaminar. Segundo, retrocedam da tentativa de nos criminalizar pela limpeza da caixa d’água. Aí a gente vê se tem conversa.”
RECLAMAÇÃO DE ÁGUA SUJA
Porém, os moradores relatam que essas obras, além de não trazer as melhorias, ainda contaminam as águas que chegam nas casas. Os vídeos divulgados mostram o líquido cheio de barro, com cor parecida com a de café. Preta afirma que essa situação teve início após o começo da concessão da Saneouro no município. As operações da empresa começaram em 2019, mas os serviços em Lavras Novas e na Chapada, tiveram início em 2022.
Veja as fotos compartilhadas nas redes sociais e presentes no dossiê:
Evaristo contesta, e diz que não é possível garantir a procedência das águas que aparecem nos relatos. Ele relata que nos últimos dias, a população local invadiu o reservatório para lavá-lo, fazendo isso sem conhecimentos técnicos. Além disso, afirma que existe um cronograma de limpeza dos reservatórios, e que o da Chapada estava em vias de ser higienizado.
“De tempos em tempos e tem que lavar, certo? E a norma recomenda pelo menos uma vez por por ano. E dependendo da situação, a cada seis meses. Então a gente tava nessa sequência. A chuva passou e a gente já tinha lavado Lavras Novas, nós lavamos de Santa Rita. Acho que Amarantina nós lavamos também. Então, nós temos um plano de lavação. Também temos o controle de qualidade, de cor , de turbidez, de cloro residual, de PH , de é coliforme total, de recolhe, tá tudo lá”.
Disse Evaristo ao Galilé.
Contudo, a população retruca, afirmando que além de não lavar, o tratamento feito na região estava trazendo água de qualidade ruim. Por conta disso, os moradores se reuniram em um mutirão para tentar limpar a caixa d’água.
“A Saneouro, quando assumiu o município, nunca nem lavou nosso reservatório, somente jogava pastilhas de cloro lá. Aí como a água estava saindo muito suja nas torneiras e com gosto e cheiro de cloro, a comunidade resolveu se juntar e lavar a caixa d’água e nós deparamos com muitas coisas”.
Revelou Preta ao Galilé.
Essas coisas vão desde centenas de pastilhas de cloro, até uma grande camada de lama, que assustou as pessoas que estavam tentando limpar o reservatório.
Contudo, para a Saneouro, não é possível comprovar a falta de qualidade da água apenas através dos vídeos. O Superintendente especula que os moradores não realizaram os procedimentos adequados de lavagem, além de afirmar que “depende de onde pega” o líquido. Por conta da decantação, a sujeira se acumularia no fundo do reservatório, gerando a impressão de água suja.
A população também concorda que o serviço de limpeza precisa ser feito por uma empresa especializada. Porém, atribui ao desespero de ver a água suja como motivador principal do mutirão.
Também achamos que deve (ser limpo por especialistas), mas quando isso não acontece nos vemos sim no direito de proteger a vida das nossas crianças que estavam tomando água podre.
Dizem os moradores do Dossiê Saneouro Chapada.
Veja um dos vídeos:
Na entrevista ao Galilé, Evaristo foi enfático ao dizer que a partir de agora, a empresa irá instalar os hidrômetros e colocar um filtro para tratamento de água na região. De acordo com ele, isso será feito com ou sem consentimento dos moradores. De acordo com a Saneouro, as obras devem ser finalizadas em no máximo 70 dias.
A população já fez um boletim de ocorrência relatando a situação, além de acionar diversos setores do poder de Ouro Preto. O Dossiê que o Galilé teve acesso também foi entregue na audiência pública da última terça-feira.
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.
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