Dezenas de crianças de Ouro Preto puderam sentir e aprender sobre a importância das águas, através de uma imersão na Bacia do Rio das Velhas. Com a proposta de ampliar a consciência ambiental dos estudantes de 11 a 14 anos, por meio da vivência direta com os rios que cortam o território, a Escola Municipal Maria Leandra- “Dona Cota”, no distrito de Santa Rita, tem desenvolvido o projeto Caminhos da Água, que uniu diversas disciplinas escolares e culminou, na última quarta-feira (14), em uma visita pedagógica ao projeto Caboclo d’Água, no distrito de Acuruí, em Itabirito.
A atividade envolveu alunos e professores em uma experiência prática e sensível no rio que nasce na Região dos Inconfidentes A experiência contou com o apoio da Prefeitura de Ouro Preto, responsável pelo transporte escolar. A visita foi guiada por Rodrigo De Angelis, idealizador do Projeto Caboclo d’Água; pela geógrafa Izabel Nogueira; Viviane Pires, conselheira do Subcomitê Nascentes; e Fabíola Moura, conselheira do Subcomitê Itabirito. A ação tem relação direta com a campanha de 2025 do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, intitulada “Velhas, Faço Parte: Aprendizado que revitaliza”.
Integração entre entidades e sociedade para proteger as águas

A atividade se destaca por promover a gestão descentralizada das águas, reunindo esforços de diferentes subcomitês, prefeituras e instituições locais em uma ação colaborativa e educativa. Essa atuação integrada e multissetorial é importante para a consolidação das políticas públicas e o endurecimento das redes de proteção.
Ao entender que as águas ocupam de maneira transversal diversas disciplinas do currículo escolar, os professores da rede pública de Ouro Preto desenvolveram a iniciativa que busca promover a educação ambiental de uma maneira viva.
Educar através do contato com a natureza é a premissa do Caminho das Águas, que apresenta as riquezas por vezes esquecidas do meio ambiente da região.
Nesse sentido, a professora Ana Cecília, uma das coordenadoras do projeto, explica que a iniciativa é capaz de mobilizar debates importantes sobre meio ambiente, desenvolvimento sustentável e direitos básicos:
“Escolhemos o tema por ser presente nos currículos e por mobilizar discussões que vão desde o uso da água, a contaminação, até a mineração e a falta de saneamento.”
Além da vivência, os alunos receberam brindes educativos dos Comitês do Rio das Velhas e do São Francisco. Foram distribuídas revistas, cartilhas de educação ambiental, almanaques de jogos, folders e até garrafinhas com água do SAAE de Itabirito, promovendo uma reflexão concreta sobre o ciclo da água. A campanha “Vire Carranca para defender o Velho Chico”, do CBH São Francisco, também esteve presente com bonés, camisetas e máscaras personalizadas.
Para Ana Cecília, o contato direto com o rio foi fundamental:
“Foi um momento muito esperado pelas crianças. Elas puderam sentir o rio, conhecer sua história, se divertir e aprender. O entretenimento, como o uso esportivo da água, também contribui para a valorização e a preservação dos recursos naturais.”
Aprendizado, conhecimento e emoção

Os alunos foram recebidos por Isaías Souza, funcionário do SAAE de Itabirito em Acuruí e guia turístico. Ele compartilhou sua vivência profissional e cultural com os visitantes:
“Falei com as crianças sobre o trabalho que faço no laboratório físico-químico, no tratamento da água usada aqui no Acuruí, que é uma das afluentes do Rio das Velhas. Depois, conduzi a turma até a orla da lagoa e ajudei na atividade de caiaque, explicando como usar o colete, como remar e conduzir a embarcação. Foi muito gratificante ver o brilho nos olhos das crianças, muitas remando pela primeira vez.”
Isaías também destacou o papel educativo e emocional da visita:
“As crianças estavam atentas, educadas e curiosas. Isso me marcou muito. Professores bem instruídos, tudo muito organizado. Se Deus quiser, estarei na próxima também.”
A proposta envolve levar os estudantes para diferentes pontos da Bacia do Rio das Velhas, desde a nascente no Parque Natural Municipal das Andorinhas até áreas mais distantes, como o distrito de Acuruí. Na visita ao Caboclo d’Água, os estudantes participaram de uma programação variada, que incluiu bate-papo sobre a qualidade da água e usos múltiplos do rio, exibição do episódio do Esporte Espetacular sobre o Alto Rio das Velhas. Além disso, eles percorreram a exposição “Que Rio Queremos” e a “Rio das Velhas: Eu faço parte”, que contrapõe imagens de rios limpos e cuidados a cenas de poluição e degradação ambiental. E, por fim, uma prática de canoagem.

Parafraseando o grande Paulo Freire, a educação ambiental não salva o meio ambiente. Educação ambiental muda pessoas. Pessoas protegem o meio ambiente. Nesse sentido, Viviane Pires, funcionária da Secretaria de Meio Ambiente de Ouro Preto, acompanhou a visita e também se emocionou com a reação dos estudantes:
“Receber os alunos da Escola Maria Leandra foi uma experiência que tocou profundamente o coração de todos nós. Ver o brilho nos olhos de cada criança e adolescente é algo que não se descreve com palavras. A educação ambiental é um caminho de transformação, e ver essas sementes germinando nos olhares curiosos e atentos dos estudantes é um presente imensurável.”
Ela reforça o papel transformador da experiência:
“Cada pergunta, cada sorriso, cada gesto de interesse nos lembra por que fazemos o que fazemos. É por eles. Por um futuro mais consciente, mais justo e mais sustentável.”
À tarde, após o almoço coletivo na Escola Municipal Major Raimundo Felicíssimo, os estudantes seguiram para o Centro Histórico de Amarantina, onde conheceram mais sobre a história do povoamento da região a partir dos rios e dos caminhos do ouro.
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A importância dos Subcomitês Nascentes e Itabirito na promoção de educação ambiental
Imagine que a bacia do Rio das Velhas é um território muito grande, que envolve várias cidades, rios e comunidades. Para facilitar o cuidado com essa área toda, ela é dividida em pedaços menores (as UTEs), e cada pedaço tem um subcomitê. Nesse sentido, os subcomitês Nascentes e Itabirito têm dois papéis principais: escutar e representar os interesses e necessidades da população local em relação à água — como qualidade dos rios, abastecimento, preservação de nascentes e educação ambiental e levar essas demandas até o Comitê principal.

Nesse contexto, Viviane, que também é conselheira do Subcomitê Nascente entende que a participação dos subcomitês de bacia em ações de educação ambiental é estratégica para criar uma cultura de cuidado com a água.
“A vivência prática junto aos rios, córregos e nascentes permite que os estudantes compreendam, de forma concreta, a importância dos recursos hídricos, indo além do aprendizado teórico. Essa aproximação gera vínculo emocional, senso de pertencimento e responsabilidade com o território”, afirmou.
Além disso, Viviane ressaltou que os subcomitês dão legitimidade técnica às iniciativas e promovem o diálogo entre as escolas.
“A presença do Subcomitê fortalece o diálogo entre escolas, comunidade e órgãos públicos, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e comprometidos com a preservação ambiental. Assim, não se trata apenas de apoiar atividades pontuais, mas de investir na construção de uma geração preparada para defender e preservar suas bacias hidrográficas com conhecimento, empatia e responsabilidade”, finalizou.
Caboclo d’água: educação ambiental através do turismo e folclore
O projeto que promoveu a vivência para as crianças leva o nome de uma figura lendária do folclore do Rio São Francisco, que recebe as águas do Rio das Velhas em Minas Gerais. A criatura fantástica tem domínio sobre os rios e o defende, como espírito protetor das águas.
Rodrigo explica que o Projeto Caboclo d’Água nasceu de uma antiga vontade de unir turismo sustentável, esportes náuticos e educação ambiental. “Em 2003, participei da expedição de caiaque do Projeto Manuelzao/UFMG, da nascente até a foz do Rio das Velhas. Desde então, sonhava em criar um espaço onde as pessoas pudessem praticar esportes e, ao mesmo tempo, aprender sobre a importância da conservação da água”, conta.
Hoje, Rodrigo mantém uma propriedade às margens da represa. A visita da escola foi o projeto piloto de uma ação que pode se transformar em programa regular, em parceria com prefeituras, associações e demais instituições públicas e privadas da região.
O Subcomitê Nascentes, o Rio das Velhas, em Ouro Preto
A Unidade Territorial Estratégica (UTE) Nascentes, onde a ação foi realizada, abrange 541,58 km² nos municípios de Itabirito e Ouro Preto. É considerada uma área de recarga de aquífero de alta prioridade para conservação, com 57,64% de seu território coberto por Unidades de Conservação. O Rio das Velhas, neste trecho, nasce no Parque Natural Municipal Cachoeira das Andorinhas e percorre 55 quilômetros até a barragem de Rio de Pedras, passando por afluentes como o Rio Maracujá, Ribeirão do Funil e os córregos Olaria e do Andaime.
Por isso, o território tem uma importância fundamental na conservação de toda a extensão da Bacia do Rio das Velhas.
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.