Dez anos após a tragédia de Mariana, a sirene que não soou antes do rompimento da barragem da Samarco ecoou na Praça Gomes Freire, nesta quarta-feira (5), durante o ato “O Toque da Sirene”. O evento, organizado pelo Jornal A Sirene, homenageou as 19 vítimas do colapso da barragem de Fundão e relembrou a luta das comunidades atingidas em busca de reparação.
Às 16h20 de 5 de novembro de 2015, a barragem de Fundão se rompeu, e dez minutos depois a lama atingiu Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. A enxurrada de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro destruiu casas, escolas e igrejas, matando 19 pessoas e contaminando o Rio Doce ao longo de 660 quilômetros até o oceano Atlântico. A tragédia de Mariana é considerada o maior desastre ambiental do Brasil.
O rejeito devastou 100 quilômetros de matas ciliares, comprometeu o abastecimento de água e afetou a vida de milhares de famílias ribeirinhas, indígenas e quilombolas. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), falhas no sistema de drenagem e obras não licenciadas contribuíram para o colapso da estrutura construída em 2008.
Morador de Bento Rodrigues, Marcos Muniz lamentou o que considera descaso com os atingidos. Ele disse que a repactuação beneficiou empresas e governos, mas deixou de lado as famílias. “Há casas ainda em construção e muita burocracia. A assessoria é lei, mas ficamos sem ela por muito tempo. As empresas usam estratégias e a vida da gente segue em desassossego”, relatou.
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A Reparação
A Samarco, desde a homologação do Novo Acordo do Rio Doce pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2024 —definido em R$ 170 bilhões—, já destinou R$ 30,4 bilhões em ações de reparação e compensação pela tragédia. No total, os valores chegam a R$ 68,4 bilhões desde 2015. Segundo a empresa, as indenizações e auxílios financeiros beneficiaram mais de 288 mil pessoas, somando R$ 14 bilhões.
A mineradora informa ainda que todas as obras iniciadas antes do Novo Acordo foram concluídas em Novo Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, com 389 entregas, incluindo moradias, bens públicos e sistemas de saneamento. Seis imóveis adicionais seguem em construção, com previsão de conclusão até o fim de 2026.
Apesar do montante de R$ 170 milhões definido pelo Nova Acordo de Mariana, ainda há insatisfação com a reparação por parte de representantes dos municípios atingidos. Das 49 cidades envolvidas no acordo, 23 optaram por não assiná-lo, incluindo Mariana e Ouro Preto.
Durante o ato, o prefeito de Mariana na época do rompimento, Duarte Júnior (Republicanos), criticou a distribuição dos recursos do novo acordo de reparação pela tragédia da barragem da Samarco. “Qualquer pessoa entende que 170 bilhões é muito dinheiro, mas o valor foi mal dividido. Há pessoas que tiveram lama dentro de casa e não foram indenizadas, enquanto outras foram. Se as empresas pagaram mal, têm que pagar de novo”, afirmou.
O atual prefeito de Mariana, Juliano Duarte (PSB), também afirmou que a tragédia de Mariana segue sem justiça plena. “A empresa tinha ciência do risco e preferiu assumir o custo. Nenhum prefeito ou atingido foi ouvido na repactuação. De 49 cidades, apenas 26 assinaram o acordo. Mariana recebeu menos de 1% dos 170 bilhões. Seguimos lutando por justiça”, declarou.
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Bacharel em jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), com passagens por Jornal O Espeto, Território Notícias e Portal Mais Minas.
