Audiência discute impactos do rompimento da barragem de Fundão em Antônio Pereira; moradores reivindicam participação popular

Audiência discute impactos do rompimento da barragem de Fundão em Antônio Pereira; moradores reivindicam participação popular

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promoveu uma audiência pública na última sexta-feira (5) para discutir os impactos do rompimento da barragem de Fundão em Antônio Pereira, um distrito de Ouro Preto. A reunião, presidida pelo deputado estadual Ulysses Gomes (PT-MG), contou com a presença de parlamentares da ALMG e também do executivo federal. O evento aconteceu na Escola Estadual Professora Doura de Carvalho Neto.

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Estiveram presentes representando os moradores atingidos diversas associações e sindicatos. Entre essas entidades: Associação Ambiental de Ouro Preto, Instituto Guaicuy, Mulheres Guerreiras de Antônio Pereira, Antônio Pereira Para Todos, Associação dos Garimpeiros de Antônio Pereira e o Sindicato dos Servidores de Mariana. Os deputados estaduais presentes foram: Ulysses Gomes(PT), Beatriz Cerqueira(PT), Professora Macaé Evaristo (PT), Bela Gonçalves (PSOL) e Leleco Pimentel (PT). Os federais foram: Rogério Correia(PT) e Padre João(PT). As visitas foram acompanhadas ainda por representantes da Advocacia-Geral da União, da Secretaria-Geral da Presidência da República e do Ministério do Desenvolvimento Social.

A presença do governo federal indica o atenção que o novo executivo expressa quanto ao tema. Desde o começo do ano, as discussões sobre a repactuação ganham força dentro dos ministérios.

Foto: Igor Varejano/Jornal Galilé

Os moradores locais foram o grande destaque da noite, manifestando-se por quase três horas durante a reunião. Com um grande público presente, as entidades expuseram suas opiniões sobre a atuação da Samarco e da Vale na região, criticando a falta de apoio aos garimpeiros tradicionais e a maneira como o acordo foi feito. Para eles, a nova repactuação deve colocar os atingidos em primeiro lugar.

Durante a audiência pública, os atingidos de Antônio Pereira e região reivindicaram um acordo com participação popular para lidar com os impactos do rompimento da barragem de Fundão. Eles se mostraram descontentes com o acordo atual, que exclui os atingidos e não os coloca em primeiro lugar.

Uma das falas mais fortes foi da moradora de Mariana, Kerliane Silva, que fez um relato sobre a falta de atenção da Samarco e da Renova na cidade quanto as indenizações. De acordo com ela, além dos impactados diretamente pelo desastre, milhares de famílias foram impactadas indiretamente, com perda de empregos e alta do custo de vida. Para Kerliane, até hoje os impactos da mineração são sentidos pelo povo da Primaz de Minas. Com um filho que nasceu logo após o desastre, ela discursou emocionando os presentes:

Eu tive que me virar para pagar aluguel, sem emprego, o pai dele também. Tive que me virar com a alimentação dos meus filhos, são três filhos, entendeu? Então se tem a minha história, tem várias histórias, todas verdadeiras. As pessoas atingidas direto e indiretamente em Mariana. A barragem estourou 2015, em novembro. Quando começou 2016, Mariana virou uma cidade fantasma, né? Não tinha emprego, não. Não tinha uma faxina, não tinha uma borracharia, não tinha nada. Afetou tudo. Aí depois que teve esses acordos, que as mineradoras voltaram a pagar a prefeitura o a verba voltou. Voltaram com os empregos e foi voltando para construir esse Novo Bento”, disse Kerliane aos deputados e os presentes.

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Neste ínterim, foi solicitado um cuidado maior das mineradoras com a região de Antônio Pereira. As entidades pediram melhorias no saneamento do município e na MG-129, a principal rodovia que liga o distrito a Mariana, cidade mais próxima. Essas melhorias seriam essenciais para garantir a segurança e o bem-estar dos moradores da região.

Além disso, também pediram respeito aos garimpeiros tradicionais, que têm sido prejudicados pelas atividades das mineradoras na região. Eles argumentaram que esses trabalhadores devem ser protegidos e que a mineração deve ser feita de forma responsável, levando em consideração as necessidades e os direitos da comunidade local. Um dos momentos mais emocionantes foi quando Wilson Nunes, da Associação Antônio Pereira Para Todos, levou ao microfone diversos garimpeiros com suas bateias e disse a frase: “Destratar os garimpeiros tradicionais é rasgar a bandeira do Brasil”.

Foto: Igor Varejano/Jornal Galilé

AUDIÊNCIA: OS DEPUTADOS FALAM SOBRE A BARRAGEM EM ANTÔNIO PEREIRA E O NOVO ACORDO DE REPACTUAÇÃO

Um dos fios condutores desta visita foi a discussão da repactuação do acordo das mineradoras com os atingidos pelo crime de 2015. Os deputados desta comissão cobram um acordo que inclua as comunidades atingidas em sua totalidade, entendendo que o atual programa não consegue assistir todas as comunidades. Nas falas dos parlamentares, várias críticas as mineradoras e a Fundação Renova foram proferidas. Os deputados também falaram sobre a barragem de Doutor, que também impacta a Antônio Pereira.

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O deputado Leleco Pimentel, um dos mais votados da região, afirmou que as mineradoras atuam com descaso nas localidades que se instalam, deixando rastros de destruição e impactos no meio ambiente.

Eu trabalhei na horta de Bento Rodrigues na Alberto, junto com seu Cabeção, Fernando e Seu Filomeno, quando aquele povo sonhava que seus produtos alimentariam os trabalhadores daquela mineração. Mas, pasmem, a primeira coisa que a empresa fez foi soltar água contaminada que matou a horta. Eu estava lá, trabalhando pelo Mandato do Padre João, e desde então, o Mandato está presente nas comunidades de Santa Rita Durão, Bento Rodrigues e Antônio Pereira, lutando pelos direitos dessas comunidades“, disse o parlamentar Leleco.

Foto: Igor Varejano/Jornal Galilé

Já Beatriz Cerqueira fez uma fala lembrando do valor das mulheres das comunidades atingidas, além de reivindicar uma atenção maior das mineradoras com serviços básicos para os locais que elas se instalam.

“Eu quero fazer um cumprimento através das mulheres. Porque as mulheres é que fazem o enfrentamento às mineradoras. Elas que são criminalizadas, processadas são desqualificadas porque a gente sempre tem um adjetivo contra a gente, né? Nós sempre estamos nervosas, estressadas, estão de TPM descontroladas. É isso que eles falam da gente. É a gente que não tem casa para cuidar dos nossos filhos, quando tropeçam na rua é culpa da luta que a gente faz porque a gente tem militância. Então quero fazer um comprimento a todos que estão aqui através das mulheres. Aquelas que fazem o enfrentamento contra Vale, contra essa gigante que tenta assassinou 272 pessoas lá em Brumadinho e tenta assassinar cada comunidade, cada território. Então, eu quero deixar meu abraço as mulheres e dizer desta importante luta que é feito e quero cumprimentar toda a comunidade através das mulheres que sofrem. Essa criminalização é gigantesca aqui a gente caminha“, ressaltou Beatriz.

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Após as falas dos moradores, os deputados fizeram suas explanações, cobrando maiores contrapartidas da Vale e Samarco na região e reafirmando a importância dos territórios. Entretanto, as cidades envolvidas nas negociações não enviaram representantes. Nenhum membro do legislativo nem executivo de Mariana e nem Ouro Preto esteve presente.

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