Um jovem de 20 anos precisou ser levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Ouro Preto, no último domingo (5), após dois dias passando mal, com dor abdominal, fadiga, náusea, dores pelo corpo e sensibilidade na pele. De acordo com a mãe do rapaz, Ruth Santos, a médica disse que a água da cidade tem causado vários problemas aos moradores do município e que outras duas pessoas foram atendidas com os mesmos sintomas.
Ruth contou que, na sexta-feira (3), seu filho sentiu uma cólica forte depois do trabalho e suspeitou que poderia ser apendicite. O jovem reclamava de gases e chegou a tomar um suco de limão para diminuir o incômodo. No dia seguinte, o rapaz começou a ter diarreia e náusea. No domingo, ele já sentiu dores náuseas, dor de cabeça muito forte e dor pelo corpo. A família suspeitou que poderia ser dengue e o levou ao hospital.
Na UPA, segundo Ruth, a médica pontuou duas opções: intoxicação alimentar ou água. De acordo com a ouro-pretana, a alimentação de seu filho é excelente. Ela disse que ele não come sanduíche ou algo do tipo, porque segue uma dieta nutricional, devido aos treinos de academia. Carne vermelha ou de porco também não são consumidas pela família, segundo a moradora de Ouro Preto.
“Nada aqui é com datas de produtos vencidos. Sempre mostrei a eles sobre validade dos produtos. Intoxicação alimentar não é pelo fato de não ter feito nenhum alimento perecível ou que pudesse causar esses sintomas”, contou Ruth.
Assim, a médica receitou Buscopan para as cólicas abdominais, Vonau para vômitos e diarreia e Nitazoxanida para eliminar qualquer rotravírus ou norovírus.
“Depois do meu desabafo nas redes sociais, foram aparecendo novos relatos. Uma família contou que quase todos estavam com o mesmo sintomas e procuraram a UPA. E hoje (terça-feira), a tarde, uma criança também estava com os mesmos sintomas”, continuou.
A irmã de Ruth, Mirtes Martins, também relatou que está com problemas na pele, com micoses na região do pescoço. “Estou com micose de pele, sem falar do cheiro forte de cloro. A quem recorrer? Estamos exaustos”, reclamou.
Conta de água
Ruth Santos disse também que um fiscal da Prefeitura de Ouro Preto foi até sua residência para ver a situação e para coletar a água da residência. Além disso, a ouro-pretana relatou que está passando aperto financeiro, após pagar uma conta de R$ 1.074 da Saneouro e ainda ter que comprar água para utilizar em casa. “Esse valor vem todos os meses. Mas paguei com ajuda do meu filho que passou mal, ironia né?”, disse.
Qualidade da água
Recentemente, a Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde de Ouro Preto instaurou um processo administrativo contra a Saneouro, após atestar diversas alterações no padrão de qualidade da água distribuída na cidade. O órgão fiscalizador detectou mudanças no padrão de turbidez, de cloro, coliformes totais e Escherichia coli de forma recorrente.
Além disso, um estudo protagonizado pelo professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Rafael Kopschitz, encontrou problemas de não cumprimento das exigências mínimas de amostragem, monitoramento e qualidade da água presente nos sistemas de abastecimento de Ouro Preto, sob responsabilidade da Saneouro.
O estudo diz que não são poucos os casos em que a amostragem, tanto na saída do tratamento quanto no sistema de distribuição, ficou muito aquém do exigido, o que pode causar em riscos à saúde do consumidor.
A Saneouro, por sua vez, rebateu o estudo, dizendo que o levantamento possui informações inverídicas e dados inconsistentes, além de ser um material enviesado, já que Rafael é coordenador do Observatório Nacional do Direito à Água e Saneamento (ONDAS), que vem tendo atuação nas mesas de diálogo com a Prefeitura de Ouro Preto para que haja a remunicipalização do serviço de abastecimento hídrico na cidade.
A concessionária ainda afirmou que mantém a qualidade da água nos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde. A concessionária disse ainda que realizou investimentos na ordem de R$ 44 milhões para tal.
Em relação ao processo administrativo, o secretário de Saúde de Ouro Preto, Leandro Moreira, disse que o mesmo segue em análise. Inclusive, ele contou que já houve um encontro com a Saneouro para buscar mais informações.
Já sobre um possível surto de contaminação pela água, Leandro garante que ainda não há nenhuma possibilidade, já que não houve aumento de notificação nas unidades hospitalares do município em relação à intoxicação por alimento ou água.
“Quando começou a surgir questionamentos em redes sociais a respeito de possíveis causas de intoxicação por água, nós procuramos, enquanto vigilância epidemiológica, os nossos principais pontos de atendimento, a Santa Casa, a UPA e as Unidades Básicas de Saúde. Não tem ainda nenhuma possibilidade de um surto por intoxicação”, afirmou ao Jornal Galilé.
O secretário de Saúde de Ouro Preto também ressaltou que a intoxicação, quando acontece, pode ocorrer por contaminação tanto de alimento quanto de líquido, não sendo possível identificar de realmente qual é a causa.
“Geralmente, há uma associação. Por exemplo, teve uma festa em que todo mundo consumiu o mesmo alimento. Aí se faz a análise de preparo desse alimento. Nossa vigilância epidemiológica continua acompanhando e orientando as nossas equipes, que tenham atenção em relação ao aumento no número de casos com sinais de náusea, vômito ou mal estar em nossas unidades”, finalizou.
O que diz a Saneouro
A Saneouro afirmou que, ao receber informações sobre a incidência de doenças pela contaminação da água, a empresa imediatamente entrou em contato com a autoridade de saúde para apurar os fatos. Segundo a concessionária, não há nenhuma evidência de aumento de casos por intoxicação no município. Portanto, a empresa considera que se trata de informações falsas, “que têm como objetivo manchar o trabalho que a empresa vem executando em toda cidade”.
“A Saneouro segue monitorando a qualidade da água de acordo com o plano de análise da empresa, e ressaltamos que até o momento não há evidências de dados fora dos parâmetros estabelecidos pela Portaria do Ministério da Saúde, Nº888. Além de técnicos que trabalham 24h fazendo o monitoramento e análise, uma equipe da vigilância sanitária do Município também verifica pontos de distribuição para reafirmar as análises. Somada a isso, uma equipe terceirizada executa análise mensal”, afirmou a concessionária por meio de nota.
Todas as medidas citadas pela Saneouro são em atendimento a Portaria do Ministério da Saúde, Nº888, de 4 de maio de 2021, que define procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água.
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Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), tendo passagens pelo Mais Minas, Agência Primaz e Estado de Minas.
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