Cento e vinte e oito anos depois da primeira e única edição completa, retorna ao leitor o belíssimo livro de Olavo Bilac (1856-1918), Crônicas e Novelas, publicado pela Editora Liberdade, de Ouro Preto.
Essa obra em prosa foi escrita quando da passagem de Bilac por Ouro Preto em 1893 e publicada em 1894.
Em 1893, fugindo da perseguição do presidente Floriano Peixoto, juntamente com outros intelectuais cariocas também vítimas do Marechal de Ferro, Olavo Bilac buscou refúgio nas montanhas de Minas e viveu alguns meses em Ouro Preto e, depois, em Juiz de Fora.
A amizade com o escritor e jurista Afonso Arinos de Melo Franco, que atuava como advogado e professor do Liceu Mineiro na antiga capital de Minas, deu a Bilac o passaporte para conhecer a cidade de Ouro Preto, sua história, os arquivos e monumentos, igrejas e natureza. Bilac ficou encantado e, aos poucos, convencido de que as raízes do Brasil estavam em Minas – mais especificamente, na Vila Rica do passado que se fundia, a seus olhos, na Ouro Preto quase à época da mudança da capital. Conversou muito, teve estreito contato com o historiador Diogo de Vasconcelos em cuja casa se hospedou antes de se transferir para o Hotel Martinelli, na Rua do Paraná, com o outro historiador e jornalista José Pedro Xavier da Veiga, que então elaborava a proposta de fundação do Arquivo Público Mineiro e da respectiva Revista, com artistas e jornalistas da cidade, além de intelectuais cariocas que estavam refugiados em Ouro Preto.
Afonso Arinos os recebia em sua residência, na Rua do Paraná, em encontros que certamente contribuíram para a imersão de Bilac na história das Minas. Discutia-se a mudança da capital; Bilac foi conhecer o Curral del Rei que sediaria o novo projeto, símbolo moderno de cidade traçada, em contraste com Vila Rica/Ouro Preto. Planejava-se a instalação do monumento a Tiradentes; criara-se em 1892 a Escola Livre de Direito de Ouro Preto. De maneira geral, as opiniões se acentuavam entre mudancistas e antimudancistas, e esse debate estava instalado na imprensa ouro-pretana. Em meio às discussões sobre mecanismos de modernização da cidade, tentativa extrema de manter a capital em Ouro Preto cheia de largas avenidas, boulevards e passeios públicos da moda, Bilac se divide: ama Vila Rica/Ouro Preto e parece, por isso, tender a que a capital se mudasse mesmo. Estava, pois, divido entre um locus que pedia proteção, preservação e cuidado, e uma ideia urbana nova, palpitante, grandiosa e moderna.
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Olavo Bilac percorreu Ouro Preto, conduzido por Afonso Arinos, que prezava as tradições mineiras, numa linha que o afiliava ao poeta e romancista ouro-pretano Bernardo Guimarães (1829-1884). Visitou as capelas primitivas, as mais antigas, São João, Santana, Padre Faria, caminhou pelo Morro da Queimada, pelas Lajes. Falou de Marília, de Dirceu, de Aleijadinho, dos Inconfidentes, dos pobres que trabalharam nas minas, dos morféticos, da contradição entre riqueza extrema e extrema miséria. Exultou as belezas, reparou minúcias, criticou poderosos soberbos, festas de triunfo da riqueza e da opressão.
Esses temas são tratados em Crônicas e Novelas. É bom ler, reler e de novo voltar a eles, na prosa muito fina, bem urdida, rica e poderosa de Olavo Bilac. Uma bela planta da cidade de Ouro Preto, de 1888, vem encartada ao livro, em cor original e traços muito firmes, como sinalização dos lugares que, em 1893, o poeta percorreu e admirou. A edição é enriquecida pelo posfácio do pesquisador e professor Antônio Dimas (USP), profundo conhecedor da obra de Bilac, e foi preparada pela professora Elinor de Oliveira Carvalho, da UFOP.
Crônicas e Novelas fazem parte de uma série de publicações com que a Editora Liberdade está comemorando o bicentenário da imprensa mineira/ ouro-pretana. (1823- 2023).
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