Você sabia que a primeira forma literária genuinamente brasileira nasceu em Mariana? A Aldravia, criada no ano 2000 por intelectuais da Primaz de Minas, já se tornou patrimônio imaterial de Minas Gerais e nesta semana foi homenageada na Câmara Municipal do município, com um mérito unicamente dedicado a celebrar a poesia Gaveteira. Neste ano, os homenageados foram o escritor Júlio César Vasconcelos e o escultor José Mercês Paiva.
Para compor um bom poema aldravista, basta criar um texto com seis versos univocabulares, de iniciais minúsculas e sem pontuação, buscando trazer imagens e criar cenários, com minimalismo e subjetividade. O conceito nasceu através dos estudos de Gabriel Bicalho, J.B. Donadon-Leal, Andréia Donadon Leal e J.S. Ferreira, publicados no jornal também marianense entitulado “Aldrava Cultural”.
Semente
– Poema de J.B Donadon
semente
esquiva no chão
brotará?
O aldravismo, que deriva de “aldra”, uma referência ao ferrolho das antigas portas coloniais, dialoga com a tradição cultural da cidade, resgatando elementos históricos enquanto inova com uma linguagem minimalista. Em entrevista para o Jornal Geraes, Andréia Donadon Leal destaca a importância de democratizar o acesso à poesia, enfatizando que ela deve estar ao alcance de todos. Ela rejeita a ideia de que a poesia deve ser restrita à Academia de Letras ou às universidades, afirmando que o movimento aldravista foi construído com o objetivo de ser acessível e de incluir o público em geral. Segundo Andréia, a poesia aldravista nasceu justamente para romper barreiras e chegar às escolas e comunidades, especialmente através de iniciativas públicas que promovem a criação poética.
“A poesia deve estar ao alcance de todos, não pode ser elitista, limitada apenas à Academia de Letras ou às universidades. Nós também trabalhamos com a ideia de que, a partir do momento em que o aluno se torna protagonista da sua produção poética, sabemos que a nossa forma poética chegou à base. Isso é muito relevante para nós, ver essa nova geração gostando, publicando e estudando a poesia aldravista“, disse Andreia.
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Trilho
– Poema de Andreia Donadon Leal
no trilho vazio,
ecos de passos.
um futuro virá?
“Sempre quisermos romper barreiras”, diz Gabriel Bicalho, um dos criadores da Aldravia
O jornal Geraes conversou com Gabriel José Bicalho, que foi agraciado na última terça-feira com o Mérito Cultural “Padre José Dias Avelar”. Com décadas de dedicação à literatura, ele participou de todo o início do movimento Aldravista. Poeta multifacetado, ele entende que a criação da forma literária exigiu um processo de coletivo, “Foi um processo de muita cooperação e consciência do que estávamos fazendo”, comentou.
O poeta também ressaltou a importância da projeção do movimento para fora de Mariana, para que o trabalho alcançasse reconhecimento nacional e internacional. Hoje, a aldravia é reconhecida fora do Brasil e já foi incluída em livros didáticos aprovados pelo Ministério da Cultura. “A aldravia foi além das fronteiras de Minas Gerais, sendo consagrada como uma forma literária distinta e reconhecida pelo seu valor cultural”, destacou.
Aldravia
– Poema de Gabriel Bicalho.
meu
verso
universo
em
poesia
Bicalho também mencionou o Jornal Aldrava Cultural, criado por ele e que teve duração de dez anos, como um dos principais veículos de divulgação da aldravia e das produções literárias relacionadas ao movimento. “Esse trabalho foi essencial para levar a cultura de Mariana para além de Minas e consolidar a aldravia como um movimento literário sério”, disse.
Para Gabriel José Bicalho, o movimento aldravista representa a ousadia de romper com o lugar-comum e continuar desafiando as limitações culturais. “Nós nunca nos conformamos com o que já está pronto. Sempre quisemos romper barreiras”, afirmou o poeta, que vê a continuidade do movimento como fundamental para o futuro da cultura literária brasileira.
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.