A organização da XXII Semana de Estudos da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) foi alvo de críticas após a orientação para que os participantes de uma mesa-redonda evitassem comentar sobre rompimentos de barragens. A medida gerou reação de entidades acadêmicas e movimentos sociais, que classificaram a decisão como tentativa de censura e interferência externa na autonomia universitária.
A orientação foi direcionada à mesa-redonda “Diversidade, Inclusão e Dignidade Humana: Avanços e Desafios para a Igualdade”, que integra a programação do evento realizado entre os dias 3 e 7 de fevereiro. Diante da repercussão, a reitoria da UFOP divulgou uma nota na qual manifestou preocupação com a diretriz inicial que censurava o debate sobre barragens e reforçou o compromisso da universidade com a liberdade de expressão. Segundo a administração da instituição, a retificação da orientação foi um passo necessário e deve servir como aprendizado.
Leia também:
- Câmara aprova reforma administrativa da Prefeitura de Mariana
- Moradora de Mariana lança primeiro livro aos 86 anos
O Jornal A Sirene também se posicionou contra a medida, classificando-a como um ataque à autonomia universitária. A publicação, que dá voz às comunidades atingidas pelos desastres-crimes de Mariana e Brumadinho, destacou que silenciar esse debate no meio académico equivale à omissão que precedeu os rompimentos das barragens. O jornal criticou a influência de patrocinadores na programação e afirmou que a universidade deve manter sua independência frente a interesses privados.
A Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa-MG) também divulgou uma nota de repúdio, apontando a histórica relação entre a UFOP e o setor minerário. A entidade destacou que a universidade recebe financiamento de mineradoras para projetos de pesquisa, o que poderia comprometer sua isenção ao abordar temas críticos sobre a atividade. A FLAMa-MG defendeu que os atingidos pelos rompimentos de barragens e os movimentos sociais sejam convidados oficialmente para participar da programação do evento e alertou sobre os riscos da censura dentro do ambiente acadêmico.
A Associação dos Docentes da UFOP (ADUFOP) também publicou uma nota na qual criticou a tentativa de cerceamento do debate e defendeu que a universidade deve ser um espaço de livre discussão sobre temas de relevância social. A entidade reafirmou a importância da autonomia universitária e cobrou um posicionamento mais firme da administração da UFOP contra qualquer tentativa de interferência externa.
As manifestações indicam uma preocupação maior com a influência de setores privados dentro das universidades públicas e com o espaço para discussões sobre os impactos sociais e ambientais da mineração. O caso reacende o debate sobre a autonomia universitária e a importância da pluralidade de ideias dentro do ambiente acadêmico.
Quer ficar por dentro sobre as principais notícias da Região dos Inconfidentes e de Minas Gerais? Então siga o Jornal Geraes nas redes sociais. Estamos no Facebook, no Instagram e no YouTube. Acompanhe e compartilhe!
Bacharel em jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), com passagens por Jornal O Espeto, Território Notícias e Portal Mais Minas.