No aniversário dos nove anos do maior desastre/crime ambiental da história do Brasil, os atingidos pela Barragem de Fundão se reuniram no distrito Bento Rodrigues, para manter viva a memória do território e das pessoas afetadas. O ato, organizado pela Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), realizou a plantação de mudas de árvores em memória das pessoas que morreram logo após a tragédia.
Com concentração realizada na quadra do distrito, a manifestação teve o apoio da Universidade Federal de Ouro Preto, do Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Conflitos em Territórios Atingidos (Conterra) e da Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas (AMEFA).
Durante toda a manhã, houve falas de representantes de todas as comunidades atingidas. Como cada muda plantada levava um nome de uma pessoa falecida, houve a distribuição por todo o território, hoje completamente destruído, do distrito de Bento Rodrigues. Os atingidos conduziram uma caminhada até a capela São Bento, templo religioso cujo sua restauração é uma demanda de todos os presentes.
Em suma, afetados pelo rompimento mostraram negatividade em relação à repactuação, em especial com a ameaça de desapropriação das terras que ainda estão nos seus nomes, grande receio geral.
Atingidos ratificam: o que ocorreu em 2015 foi um crime
É sempre importante destacar que o rompimento da Barragem de Fundão destruiu completamente o distrito de Bento Rodrigues. A lama com rejeitos alcançou outros distritos de Mariana, como Águas Claras, Ponte do Gama, Paracatu e Pedras, além da cidade de Barra Longa. Além disso, toda a Bacia do Rio Doce foi comprometida, com mais de 40 municípios que reivindicam reparações.
Apesar de nenhuma mineradora ter se sentado no banco dos réus, o governo federal, a união e as mineradoras assinaram a ‘Repactuação de Mariana’, se comprometendo a investir 130 bilhões de reais. Mesmo assim, os atingidos entendem que o que ocorreu em 2015 foi um crime, e que deve haver reparação e justiça.
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Mônica Santos, atingida e integrante da comissão, fez um discurso contundente, descrevendo o rompimento da barragem como um verdadeiro crime e criticando a ganância das mineradoras. “Foram 20 vidas ceifadas no dia 5, vidas que poderiam ter sido poupadas. Embora a empresa seja um CNPJ, por trás dele há pessoas que tinham o poder de decisão e sabiam dos riscos,” afirmou. Ela também denunciou as consequências que o desastre trouxe para a saúde dos moradores: “Foram 71 pessoas da minha comunidade que perdemos nesses nove anos, muitas delas por depressão ou câncer, doenças que não eram comuns entre nós.”
Sobre a repactuação recente entre o governo, as mineradoras e a Justiça, Mônica destacou a exclusão dos atingidos no processo. “Já houve acordos antes, e eles falharam justamente porque as empresas não foram obrigadas a cumprir. Agora, mais uma vez, fizeram tudo sem a nossa participação. E quem ganha com isso são as mineradoras, enquanto nós recebemos migalhas. Nada do que foi proposto realmente beneficia a população.”
Resistência materializada na casa de Terezinha
A casa de Terezinha Quintão, uma das poucas que não foi destruída pela lama tóxica, tornou-se um símbolo de resistência. Em 5 de novembro de 2015, o local abrigou dezenas de desabrigados desesperados após o rompimento da barragem. “Nós passamos a noite aqui, servindo café e água ao povo,” lembrou Terezinha, que, desde então, mantém sua casa como ponto de encontro para amigos e familiares aos finais de semana. “Essa casa é como um remédio para nós”.
Mesmo após nove anos, a matriarca da família mantém uma horta recheada de vegetais, além de sempre estar com a geladeira cheia. Ainda que o assédio já tenha tentado impedir a tradição, ela quer seguir com os encontros, mantendo o espírito do povo de Bento.
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Jornalista formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, com passagens por Esporte News Mundo, Blog 4-3-3 e Agência Primaz.